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Com pandemia e home office, brasileiro investe mais na reforma da casa

Em meio ao isolamento, cresceu a necessidade de tornar a residência um local mais funcional e confortável, diz pesquisa; para realizar as obras, brasileiros contrataram mais linhas de crédito

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Por Bianca Zanatta
Atualização:

Especial para o Estadão

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Depois de mais de um ano de pandemia e distanciamento social, os brasileiros continuam investindo com força em reformas e reparos na casa. Segundo a pesquisa "O impacto comercial da covid-19 para arquitetos e designers de interiores", realizada pela Archademy, uma plataforma online de arquitetura e design de interiores, 85% dos 650 escritórios entrevistados geraram propostas no período de isolamento social.

As demandas são diferentes das tradicionais. No segmento residencial, 77,5% dos projetos tiveram foco em mudanças pontuais no lar. Entre eles, 50,5% envolveram adaptação de ambientes para home office, enquanto 47,5% foram de adequação dos espaços de convivência e 21,5% de reformatação do ambiente para crianças.

Outro levantamento da empresa apontou também um crescimento do interesse por dar um "tapa" no visual da casa em 2020. As buscas que tiveram alta foram por produtos de decoração (88% mais do que em 2019), renovação de móveis (68%) e aquisição de móveis para redecoração (42%).

Mary Fernandes transformou o terraço gourmet num espaço para home office. Foto: Acervo Pessoal

Os brasileiros também estão contratando linhas de crédito para fazer as adaptações da casa ao novo cenário. Na plataforma Creditas, a procura cresceu ao longo do último ano e, só entre janeiro e fevereiro de 2021, houve um aumento de 125% na quantidade de projetos de reformas contratados. Segundo a fintech, reformar o imóvel é o terceiro principal motivo de solicitação de crédito com garantia de imóvel (13%), ficando atrás somente de investimento em negócio próprio (17%) e pagamento de dívidas (39%).

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De olho na demanda, a fintech criou o braço Creditas Home para oferecer, além do financiamento da obra, pacotes de serviços como pré-orçamento e imagem 3D do ambiente que será reformado, consultoria técnica, projeto arquitetônico e time de arquitetos para execução.

A plataforma OneHelp, marketplace de serviços de arquitetura, também registrou crescimento intenso desde o início da pandemia. O aumento na demanda foi de 300%, principalmente por projetos arquitetônicos, que podem ser feitos a distância. A empresa aponta ainda que as pessoas estão gastando 150% a mais para reformar e decorar durante a pandemia, saltando de uma média de R$ 36 mil para R$ 90 mil. Segundo o presidente da OneHelp, Thiago Nicolielo, espaço para home office e adaptações que deixem os ambientes mais harmoniosos para o convívio em família são as maiores necessidades.

Traumas

Se o isolamento social criou a necessidade iminente de fazer mudanças na casa, a situação também reacendeu alguns traumas. Reformas tradicionalmente costumam se arrastar por muito mais tempo e custar o dobro do previsto inicialmente - e, neste momento, com todos em casa e os elevados índices de contaminação pelo vírus, ter uma equipe fazendo barulho e transitando por meses pelo imóvel está longe do ideal.

É essa dor que a 1Comodo, do arquiteto carioca Gustavo Pozzato, se propõe a resolver. Especializada em fazer a reforma completa em dez dias e entregar um ambiente "instagramável" , a construtech nasceu para atender a um nicho de influenciadores digitais, mas o conceito acabou atraindo uma carteira de clientes bem mais diversificada. "Ninguém mais quer esperar seis meses por uma reforma, ainda mais de um ambiente só", observa Pozzato, explicando que a ideia da 1Comodo é fazer "igual aos programas da TV americana: rápido e sem dor de cabeça".

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Ele conta que 80% dos brasileiros não utilizam profissionais habilitados para fazer as reformas e essa informalidade, somada à falta de planejamento, acarreta uma série de problemas, como atrasos e desperdício de materiais. "Criamos uma metodologia própria para fazer a obra acontecer no prazo", revela o arquiteto, que testou diversos formatos de execução até chegar à fórmula atual. "Hoje, temos times específicos e reduzidos para fazer os serviços e uma metodologia de comunicação e softwares para garantir o andamento ágil", explica. "Também mapeamos os cenários repetitivos que dão problemas na obra para ganhar tempo."

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Foi essa proposta que fez a psicanalista Mary Fernandes, de 50 anos, que vive em Belo Horizonte com o marido e os dois filhos, criar coragem de transformar o terraço gourmet do apartamento, pouco usado pela família, em espaço para home office. "Eu tinha escritório, mas queria aproveitar a vista para a Lagoa da Pampulha", conta. O projeto da 1Comodo, desenvolvido em junho do ano passado, retirou a churrasqueira, readequou móveis, trouxe cortinas solares, sofá-cama retrátil e um banco para alongar o espaço e ainda servir de armário - segundo a moradora, fundamental quando se tem adolescentes e crianças em casa.

Segundo ela, uma equipe de três pessoas demoliu tudo, ensacou e jogou fora em um único dia, seguida pelos outros times, que vinham e executavam cada um sua parte. "Hoje, é o lugar mais disputado aqui, porque é super versátil", diz a psicanalista. "Virou meu espaço para lives e atendimento online, espaço de leitura, quarto de hóspedes. É a coqueluche da casa."

O comportamento do consumidor também está gerando empregos no setor. À frente da Natsuka Design de Interiores, a arquiteta Kely Natsuka diz que o escritório, constituído por três profissionais antes da pandemia, hoje conta com 40 colaboradores. "Se antes entregávamos cerca de 35 projetos e 20 obras por ano, só nos primeiros quatro meses de 2021 já chegamos a 27 projetos."

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